sábado, 27 de agosto de 2011

Escritos de Nitiren Daishonin - O PORTAL DO DRAGÃO - ADMISSÃO


-O Portal do Dragão

Edição 515 - Publicado em 16/Julho/2011 - Página 20

(As Escrituras de Nitiren Daishonin, v. III, p. 281 – tradução revisada)

Resumo e Cenário Histórico

O Buda Nitiren Daishonin escreveu “O Portal do Dragão” em 6 de novembro de 1279 aos 57 anos, quando vivia no Monte Minobu. O recebedor desta carta, Nanjo Tokimitsu, um jovem de apenas 20 anos, era o administrador da Vila de Ueno. Quando tinha 7 anos, a morte prematura de seu pai e de seu irmão mais velho pôs sobre ele, desde cedo, uma grande carga de responsabilidade. Aos 16 anos, ele assume a função, que antes era ocupada por seu pai, como administrador do Distrito de Ueno.
Nanjo Tokimitsu auxiliou Nikko Shonin na intensa campanha de propagação na região, obtendo assim notável sucesso. As autoridades locais sentiram-se ameaçadas. Começou, então, uma série de perseguições e atos violentos contra os seguidores do Budismo Nitiren, o que culminou com o incidente conhecido como Perseguição de Atsuhara. Nela, vinte camponeses foram presos, e três deles, decapitados. Observando o forte espírito dos seus discípulos, simples camponeses, de não abandonarem a fé, mesmo ao custo da própria vida, Nitiren Daishonin concluiu que havia chegado o momento de perpetuar seus ensinos para todo o futuro. Assim, em 12 de outubro de 1279, inscreveu o Dai-Gohonzon, o Supremo Objeto de Devoção para a felicidade de todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei.
Em “O Portal do Dragão”, Nitiren Daishonin revela ao jovem discípulo que a única forma de superar todos os tipos de perseguições e de dificuldades para alcançar a iluminação se encontra no caminho do juramento de concretizar o Kossen-rufu, o desejo do Buda.
Na China, existe uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão. Suas águas precipitam de uma altura de trinta metros a uma velocidade superior à de uma flecha lançada por um robusto arqueiro. Inúmeras carpas reúnem-se aos pés da cachoeira na esperança de subi-la. Aquela que conseguir o feito vai se transformar em dragão. No entanto, nem um único peixe em cem, mil ou dez mil consegue realizar a façanha, mesmo depois de dez ou vinte anos de esforços. 
Alguns são arrastados pela forte correnteza, outros caem nas garras de águias, falcões, milhafres e corujas e outros são presos em redes, armadilhas, ou, ainda, são atingidos por flechas de pescadores que se enfileiram em ambas as margens do rio de dez tyo de largura. Tal é a dificuldade que uma carpa encontra para se tornar um dragão.
Nesse trecho inicial do escrito, Nitiren Daishonin cita a lenda do Portal do Dragão como uma analogia para descrever o árduo caminho para alcançar o estado de Buda, isto é, a verdadeira felicidade nesta existência.
O Portal do Dragão é uma cachoeira lendária da China. Algumas fontes afirmam que se situa no rio Amarelo. As carpas que conseguissem subi-la se transformariam em dragões. Nesse escrito, Nitiren Daishonin descreve a cachoeira dizendo que ela possui trinta metros de altura e dez tyo (mais de um quilômetro) de largura. A lenda diz que sua força era tão intensa que praticamente nenhuma carpa, por mais que tentasse, conseguia subir e chegar ao topo da ca­choeira. Além dessa dificuldade, aves de rapina e pescadores ficavam à espreita em ambas as margens para apanhá-las. E somente uma carpa capaz de superar tantos impedimentos e chegar rio acima se transformaria em dragão com o poder de controlar a chuva, os trovões e as tormentas.
Em muitos países do Oriente, até hoje, emprega-se a expressão “escalar o Portal do Dragão” como sinônimo de empenho contra os obstáculos ou de superação de grandes barreiras para ter êxito na sociedade ou na profissão.
Do ponto de vista da prática budista, escalar a forte correnteza corresponde ao desafio da prática da fé em meio às dificuldades da época atual dos Últimos Dias da Lei1 para se atingir o estado de Buda. A força e a velocidade com que as águas precipitam, arrastando os peixes correnteza abaixo, podem se comparar com as condições de uma era maléfica, contaminada pelas cinco impurezas,2 conforme descrita pelo Sutra de Lótus. Por outro lado, as aves de rapina e os pescadores, que dificultam ainda mais a escalada, correspondem aos Três Obstáculos e Quatro Maldades3 e aos Três Poderosos Inimigos.4
Por exemplo, Shariputra praticou austeridades de bodhisattva durante sessenta kalpa com o propósito de atingir o estado de Buda. Mas, no final, foi incapaz de perseverar e retrocedeu à prática dos dois veículos.
Nessa parte do escrito, Nitiren Daishonin refere-se às dificuldades para se manter a prática budista, destacando quão terrível é a natureza das influências negativas. No Budismo, tais influências negativas são conhecidas como “maus amigos”.5
Shariputra foi um dos dez principais discípulos de Sakyamuni, sendo considerado o de maior sabedoria. Na leitura em japonês, a personagem é conhecida como Sharihotsu.
A história descrita por Nitiren Daishonin consta no “Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria”. Diz respeito a uma das existências passadas de Shariputra, quando ele praticava inúmeras austeridades de bodhisattva por um tempo inimaginavelmente longo de sessenta kalpa. Com isso, alcançou elevado nível da prática. Em certa ocasião, Shariputra atendeu ao pedido de um brâmane, oferecendo-lhe um dos seus olhos. Porém, o brâmane demonstrou sentir repugnância ao cheirar o olho que recebera, atirou-o ao chão e pisou nele com desprezo.
Diante dessa atitude, Shariputra desistiu da prática de bodhisattva, regrediu aos ensinos do Hinayana ou ao caminho dos ouvintes e falhou em atingir a iluminação.
Portanto, Shariputra, apesar de praticar inúmeras austeridades, além de atingir um nível avançado da prática, retrocedeu na fé porque cedeu à influência negativa dos “maus amigos” que são, essencialmente, funções do “Rei Demônio do Sexto Céu”.6 Na verdade, o Rei Demônio nada mais é que a escuridão fundamental inerente à vida das pessoas. Shariputra não foi vencido pela conduta repreensível do brâmane, mas pela própria mente ou fraqueza interior.
Por meio da história do Shariputra e do brâmane, Nitiren Daishonin ensina a importância da continuidade da prática da fé, sem jamais abandonar ou retroceder, seja qual for a circunstância negativa que venha a acontecer.
Até pouco tempo, esses acontecimentos pareciam não ter relação conosco. Hoje, no entanto, vemo-nos enfrentando o mesmo tipo de provação. Meu desejo é o de que todos os meus discípulos façam um grande juramento.
Nesse trecho, Daishonin declara: “Meu desejo é o de que todos os meus discípulos façam um grande juramento”. Na época, os discípulos do Buda Nitiren Daishonin passavam por severas adversidades decorrentes da Perseguição de Atsuhara, a ponto de terem a própria vida ameaçada. Nitiren Daishonin ensina, nessa passagem, que a única forma de vencer esse feroz ataque do “Rei Demônio do Sexto Céu”, evidenciando uma força capaz de resistir às perseguições e adversidades em prol do Budismo, está no grande juramento. Em outras palavras, é fazer do estado de Buda o supremo objetivo da vida e dedicar a existência ao grande juramento do Buda, isto é, a realização da ampla propagação — o Kossen-rufu.
A própria existência de Nitiren Daishonin foi inteiramente embasada no juramento de estabelecer o Verdadeiro Budismo, sem recuar um único passo, tal como afirma no escrito “Abertura dos Olhos”: “No entanto, meu juramento é o de manter uma poderosa e inabalável determinação de salvar todos os seres vivos e jamais faltar com minha decisão” (END, v. 4, p. 65).
Somos afortunados por estarmos vivos depois da grande epidemia que assolou o país nos dois últimos anos. Mas, agora, com a iminente invasão mongol, parece que poucos sobreviverão. No final, ninguém pode escapar da morte. Quando ela chegar, o sofrimento será exatamente igual ao que experimentamos neste momento. Visto que a morte é a mesma em qualquer um dos casos, o senhor deveria estar disposto a oferecer a vida em prol do Sutra de Lótus. Pense nesse oferecimento como uma gota de orvalho que se reintegra ao oceano ou uma partícula de pó que retorna à terra. Uma passagem do terceiro volume do Sutra de Lótus afirma: “Imploramos para que o mérito obtido por meio desses oferecimentos se estenda amplamente a todas as pessoas de forma que nós e os demais seres vivos entremos juntos no Caminho do Buda” (LS, v. 7, p. 130).
No final deste escrito, Nitiren Daishonin refere-se à importância de dedicar a vida em prol do Budismo. Na frase: “Somos afortunados por estarmos vivos depois da grande epidemia que assolou o país nos dois últimos anos. Mas, agora, com a iminente invasão mongol, parece que poucos sobreviverão”, o Buda descreve o cenário dramático do Japão. Naquela época, ocorriam muitas mortes decorrentes de uma série de epidemias, além da temível invasão mongol cuja segunda tentativa poderia acontecer a qualquer momento. Portanto, as circunstâncias indicavam que a morte poderia vir a qualquer instante.
Logo, por ser uma existência tão limitada, o Buda Nitiren Daishonin ensina a não vivê-la em função de assuntos seculares superficiais, mas sim em prol de algo fundamental da vida que é o Budismo. Este é o significado dessa declaração de Daishonin: “No final, ninguém pode escapar da morte. Quando ela chegar, o sofrimento será exatamente igual ao que experimentamos neste momento. Visto que a morte é a mesma em qualquer um dos casos, o senhor deveria estar disposto a oferecer a vida em prol do Sutra de Lótus”.
Cabe relembrar que, na época em que foi escrita esta carta, ocorria a Perseguição de Atsuhara. Nesta, vinte camponeses haviam sido aprisionados sob falsa acusação, unicamente por terem se tornado seguidores do Budismo Nitiren. E isso culminou com a execução dos três irmãos Jinshiro, Yagoro e Yarokuro, conhecidos como os três mártires de Atsuhara.
O ato de oferecer a vida em prol do Sutra de Lótus não deveria, de forma alguma, ser motivo para lamentação. Na sequência do escrito, Nitiren Daishonin ressalta: “Pense nesse oferecimento como uma gota de orvalho que se reintegra ao oceano ou uma partícula de pó que retorna à terra”.
Em relação a essa passagem, o presidente Ikeda afirma em sua explanação: “Em termos de eternidade da vida, nossa existência é efêmera como o orvalho. Comparada com a escala colossal do Universo, nossa vida é minúscula como uma partícula de pó. Porém, ao basearmos totalmente a vida na Lei Mística, vasta como o oceano e firme como a terra, podemos estabelecer um estado ilimitado e inabalável, uma condição de unicidade com a Lei universal. Esta é a mensagem do Buda. Em outro escrito, Nitiren Daishonin diz: ‘Como a gota de orvalho que se mistura com o grande oceano ou a partícula de pó que se junta à terra, [o benefício deste oferecimento] permanecerá existência após existência, sem jamais se desvanecer’ (WND, v. 2, p. 532). Dessa forma, o orvalho se torna eterno e imperecível ao fundir-se com o oceano; o pó também permanece para sempre ao fundir-se com a terra. Do mesmo modo, a vida dos que se dedicam à realização do Kossen-rufu se tornará una com o estado de Buda do universo, e repetirá eternamente o ciclo de nascimento e morte nesse estado indestrutível. Além disso, renascerão sempre para cumprir a suprema missão do Kossen-rufu no lugar e nas circunstâncias que escolheram”.
Na conclusão deste escrito, Nitiren Daishonin cita um trecho do sétimo capítulo do Sutra de Lótus, “Parábola da Cidade Imaginária”: “Imploramos para que o mérito obtido por meio desses oferecimentos se estenda amplamente a todas as pessoas de forma que nós e os demais seres vivos entremos juntos no Caminho do Buda”. Trata-se de uma passagem na qual os reis Brahma oferecem seus palácios ao Buda com o desejo de que os benefícios resultantes se propaguem a um grande número de pessoas, fazendo que todos possam ingressar no caminho do estado de Buda.
A disposição de se empenhar pela felicidade de si próprio junto com as demais pessoas é justamente a essência do budismo Mahayana. Essa disposição, que, para nós, praticantes do Budismo Nitiren, indica a dedicação em prol do Kossen-rufu, é justamente o “grande desejo do Buda”.

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